Existe uma lenda de que o solo do cerrado é muito pobre e que aqui a plantação é muito difícil. Existe uma lenda que no cerrado só faz calor e que sorte seria se tivéssemos um clima suíço para refrescar.
Pois bem, essas lendas caíram por terra no dia em que comi queijo suíço, uvas e provei vinhos produzidos no cerrado praticamente sem sair de Brasília.
Era sábado e junto com os amigos partimos no Wine Tour no Cerrado, uma experiência promovida pela Experimente Brasília. Eu já andava de olho nessa experiência desde o ano passado e finalmente consegui uma data para ir. Afinal, quem não fica curioso quando descobre que existe uma vinícola produtora de vinhos premiados e uma fazenda de suíços que produz queijos a menos de 200 km de Brasília?
O ponto de encontro é na quadra da sede do Experimente Brasília (215 norte) onde pontualmente estávamos os 12 sortudos que iriam embarcar para esse dia memorável. Todos a bordo, seguimos de van até a nossa primeira parada que seria a fazenda produtora de queijos.
Os 170 km até lá foram muito agradáveis e quase não os notamos já que íamos imersos nas apresentações e explicações de nossa anfitriã, Ana Paula, uma moça sorridente, gaúcha de nascimento e brasiliense de coração. Ela é professora, pesquisadora, co-líder do convívio Slow Food Cerrado, editora do blog Pitadas de Gastronomia (ufa!) enfim, uma apaixonada pela gastronomia brasileira. Ana Paula nos deu detalhes sobre a viagem e atiçou ainda mais nossa curiosidade com as descrições dos queijos e vinhos que experimentaríamos ao longo daquele sábado.
Poucos quilômetros a frente da cidade de Corumbá de Goias e antes de Pirenópolis fica a entrada para a fazenda Pica-Pau. Se você estiver distraído, passa sem nem notar a placa na estrada. Mais alguns quilômetros de estrada de terra e avistamos umas vaquinhas, acho que é por aqui!
Ao descer da van, somos recebidos pelo Sr. Stephan Gaehwiler na varanda de sua casa onde estão penduradas uma bandeira do Brasil ao lado de uma bandeira da Suíça. Chegamos meio tímidos e saculejados pela estrada de terra, levamos uns 5 minutos até ficarmos à vontade e começarmos a provar os queijos que nos aguardavam ali. Tínhamos à disposição o queijo alpino e o Tomme. Enquanto nos deliciávamos com os queijos, Stephan ia contando sua história para o grupo. Daqui a pouco chegou a Sra. Cornelia trazendo um café magnífico (que ela planta, colhe e torra ali mesmo na fazenda) e uma cestinha de pães de queijo. Nesse momento já estávamos em casa, brigando até pelo último pãozinho na cestinha 🙂
- café com queijo
- Stephan e suas histórias
- ah, esse pão de queijo…
Stephan nos contou porque saiu da Suíça e como veio parar aqui no meio do cerrado brasileiro. Ele conta que sonhava desde criança em ser fazendeiro, mas que era um sem-terra na Suíça. Na juventude, depois de concluir uma formação profissional agrícola e estagiar no Canadá, decidiu aceitar uma proposta de trabalho de um fazendeiro no Brasil que era conhecido de seu pai. Em 1982, desembarcou para trabalhar com gado na cidade de Baliza-GO. O tempo ali o fez decidir ficar no Brasil, porém, o que ele queria era ter um negócio próprio. E quando encontrou seu pedaço de chão decidiu que tinha que produzir algo especial – eu fiquei emocionada ao ouvir isso!
Aos poucos ele foi instalando ali as condições ideais para produzir seu queijo – o gado específico, a ração, as câmaras frigoríficas – e atingir um padrão de qualidade tão elevado que é elogiado até pelos suíços. Toda a família está envolvida com a produção do queijo, acordam antes do sol nascer para ordenhar as vacas, alimentar os animais e só então irem escovar os queijos com água e sal que são escovados diariamente até atingirem o ponto certo de cura.
- A fábrica
- algumas explicações do processo
- a mina!!!
Depois de visitarmos a fábrica e ver de perto as vaquinhas, voltamos para comprar os queijos, é claro! O preço é bem mais em conta do que se comprarmos na cidade. Trouxemos 3 peças, 2 Tomme e um Alpino.
Nos despedimos de Stephan e Cornélia encantados com a coragem de alguém que deixa a Suíça e cai no mundo atrás de um sonho. E que veio produzir algo especial <3
De barriga cheia de queijo, pão de queijo, café e um sorriso feliz estampado no rosto, subimos na van com nossas várias sacolas de queijo para seguir viagem. Agora estávamos indo em direção a Cocalzinho-GO conhecer o vinhedo Pireneus.
Wine tour no cerrado
Voltamos pela rodovia em direção a Brasília até o acesso à estrada de chão que nos levaria ao vinhedo. Sobe e desce da estrada e alguns mata-burros depois, chegamos na fazenda e ali já nos esperava a Adriana. Uma recepção calorosa e alegre, em uma área com uma casinha rústica linda, um gramado convidativo, um balanço de madeira e lá ao fundo, os 4 hectares de plantação dos 12 mil pés de uva que tornam essa fazenda um lugar tão especial. Parecia um belo cenário de um filme italiano.
Conversamos um pouco ali mesmo e Adriana nos contou que seu marido, Marcelo, hoje não poderia estar com a gente, pois estava de plantão. Marcelo é médico e o empreendedor por trás desse sonho de fazer vinho no cerrado. Logo fomos convidados a visitar o parreiral, a grande estrela do passeio.
- o balanço convidativo
- achei linda essa composição
- o parreiral
Adriana foi nos contando todos os detalhes do sonho do marido até que virasse a realidade que estávamos vendo. Há mais de 10 anos, Marcelo começou a se aprofundar nos estudos, pesquisas e viagens para encontrar o lugar perfeito para realizar a sua vitivinicultura (atividade que envolve o cultivo das vinhas e o fabrico de vinho).
E quem diria que aqui, em solo goiano, do ladinho de Brasília, essa terra era extremamente propícia para essa atividade. Começou importando algumas mudas e variedades de uva da Itália e cultivou a syrah, barbera e tempranillo.
Hoje a produção resulta em dois rótulos varietais – o Intrépido (Syrah) e o Banderas (Barbera).
Ali no parreiral vimos as uvas em estágio final de maturação, já que a colheita acontece no mês de agosto, aprendemos como é o processo de cuidados do plantio até a colheita e aproveitamos para experimentar as variedades de uva ali mesmo no cacho e perceber as diferenças características de uma variedade para outra.
Muitas uvas e gargalhadas depois, era hora de experimentar os vinhos!
O primeiro foi o Intrépido e em seguida o Banderas. Apesar de não beber, provei dos dois vinhos para conhecer o sabor e digo com a opinião mais leiga de todas que o meu favorito foi o Banderas. O que não corrobora com a opinião dos amigos de viagem que foram categóricos em eleger o Intrépido como o mais gostoso. Esse momento foi pura diversão, todo mundo experimentando e usando os conhecimentos (inexistentes, no meu caso) de enologia e fazendo bonito nas perguntas para a Adriana.
A Adriana nos descreve o Intrépido em seu ponto ideal como encorpado, maduro, com aromas de fruta, estrutura excelente de acidez com tanino.
- o meu favorito
- servindo
- a turma toda brindando
Enquanto isso, ali naquele gramado em frente a casinha rústica linda, estava sendo montado o cenário mais bucólico e fofo do dia, o nosso piquenique de almoço.
Fomos nos sentar nas toalhas estampadas de xadrez vermelho e branco, com direito a cestinhas, almofadas, mais vinho, queijos e um sanduíche gourmet delicioso preparado pela nossa chef anfitriã Ana. E se você tem alguma restrição alimentar é só avisar durante a inscrição no passeio. Para o nosso grupo, a Ana teve que preparar sanduíches vegetarianos (o meu e do Denis, que por sinal estavam de comer de joelhos!), sanduíche sem lactose e sanduíche sem ovo e azeitonas. Sem comer você não fica!
- wine tour queijos e vinhos
- para quem tem restrição, sanduba especial
- a beleza na simplicidade
Muitas gargalhadas, fotos, amigos novos e papo animado durante o piquenique. A turma ficou empolgada e comprou uma caixa de vinhos – e foi o Denis que saiu na foto como carregador!
Lá pelas 16h era hora de retornar para Brasília.
Foi um passeio surpreendente, inédito e maravilhoso. Com histórias tão diferentes, mas com produtos que harmonizam tão bem, queijos e vinhos no cerrado certamente elevaram nossa região a um turismo de muito alto nível!
#EnsaiosIndica
Serviço
Quem leva – Experimente Brasília
Para comprar os vinhos em Brasília – Adega Zahil, Adega Baco, Adega Decanter
Para comprar os queijos em Brasília – Queijaria Alpina
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Bike, Brasília e poesia – Rota Ver de Perto do Experimente Brasília
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#EncontroBsB – I Encontro de Blogs de Viagem de Brasília
Turismo em Brasília – roteiro de Street Art na Capital
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Ester
Que tour lindo! Adorei! Realmente, nunca imaginaria produção de queijos e vinhos no cerrado! Como tem coisa rolando no Brasil que a gente nem faz ideia, né? Bjs!!
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oi Ester,
é verdade! cada vez que descubro coisas assim fico ainda mais apaixonada pelo nosso país. Tanta coisa incrível pra gente explorar.
obrigada pela visita e volte sempre.
um beijo,
Camilla
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Salonisses
Eu simplesmente sou apaixonada por agroturismo e esse tipo de passeio. Adorei o post e fiquei super entusiasmada. Parabéns 🙂
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Oi Salonisses,
olha, eu super recomendo esse tour! Além de ser super inusitado, é lindo e gostoso =)
Obrigada pela visita e volte sempre.
um beijo,
Camilla
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Lucas CN
Poxa, fui várias vezes pro cerrado (Chapada dos Veadeiros), estive na região várias vezes e perdi esse tour incrível. Ótima desculpa para voltar! 🙂
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Oi Lucas,
acho que isso é um convite para você voltar 🙂 sou parceira para mostrar tudinho, só me avisar.
Obrigada pela visita e volte sempre.
um beijo,
Camilla
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Flávia March
Que delicioso esse passeio.. Amei tudo, e principalmente o café plantado, colhido e torrado ali mesmo na fazenda, o charme do piquenique, provar as uvas pra sentir a diferença entre elas, e a forma como você escreveu o post. Uma delícia de ler.
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Oi Flavia,
que linda você! olha, esse cafezinho é mesmo de se apaixonar. Venha visitar o cerrado e conte comigo pra te mostrar todas essas delícias que temos por aqui.
Obrigada pela visita e volte sempre.
um beijo,
Camilla
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Fábio Junior Alves
Esta experiência é maravilhosa e mostra que o Brasil é riquíssimo em lugares fantásticos, experiências incríveis e pode produzir praticamente qualquer coisa.
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Oi Fábio,
é não é?! é muita coisa incrível para desbravarmos nesse brasilzão =)
Obrigada pela visita e volte sempre.
um beijo,
Cmailla
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Alessandra Fratus
Que demais!! Ô terra boa. Já tinha ouvido falar que os vinhos são incríveos, mas fiquei tentada com esses queijos. Que gostosura!!!
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Oi Alê,
opa, estou às ordens para mostrar o caminho das pedras, quer dizer dos queijos, ao vivo aqui no cerrado! qdo estiver por aqui novamente, só avisar.
Obrigada pela visita e volte sempre.
um beijo,
Camilla
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Fernanda Leitão
Olá Camila, muito legal seu relato. Você sabe me dizer se consigo fazer o passeio ” desempacotada”. Vi pelo instagram a divulgalção desse passeio, mas achei o preço um pouco salgado para meu bolso.
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Oi Fernanda,
muito o brigada pela visita!!
A vinícola não recebe visitas individuais, pelo que conversei com a Adriana, eles sempre marcam grupos. Minha sugestão é você entrar em contato diretamente com a vinícola e a fazenda de queijos para verificar a possibilidade de visitas individuais e como seria. No post não tem os contatos das fazendas, mas se você colocar no google encontra fácil! e se precisar de dicas de como chegar, só avisar.
um beijo e volte sempre por aqui,
Camilla
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Ângela
Camilla, adorei a idéia do passeio!
Estive em Brasília há dois anos e gostei muito da cidade, agora tenho mais um motivo pra querer voltar!
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Olá Ângela,
volte mesmo! Brasília anda muito interessante para o turismo e com muita opção de passeios nos arredores 🙂 esse em especial é incrível!
muito obrigada pela visita, um beijo e volte sempre,
Camilla
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Rapha Aretakis
Que delícia de passeio, Cami! As fotos estão lindas, e isso deve ser um reflexo dos bons momentos. Deu vontade. De verdade. Brasília tá na rota e você é responsável por nos mostrar uma capital tão pra frente e diversa! Espero ir em breve e comprovar tudo.
:*
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Rapha, muito obrigada pelas palavras! Venha, você precisa conhecer minha Brasília, do meu jeito, tenho certeza que você vai se encantar muito por aqui.
Saudade de você, um beijo enorme, tomara que nos encontremos em breve,
Camilla Kafino
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